ecos de pedra |
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No último dia de setembro, aproveitando o calor que ainda se fazia sentir ao entardecer, os pés fizeram-se ao caminho num pequeno troço da designada Via Romana |PR4, no concelho vizinho de Sardoal.
Deixando a viatura no parque de estacionamento da zona industrial, o percurso começa junto à pequena rotunda nas proximidades da Abrangreen. Como os dias são mais curtos, para aproveitar ainda alguma luz decente para tirar fotografias às plantas, era necessário não alongar muito o percurso.
Iniciando a marcha a partir da rotunda, seguindo sempre pelo caminho em terra, sem derivações para trilhos laterais, este troço da PR4 – Via Romana alcança a Rua de S. Bartolomeu e termina quando esta intersecta com a EN359/Rua das Flores, que em sentido ascendente leva à localidade de Valhascos. De uma extremidade à outra do percurso distam 1,95 km, ida e volta representa praticamente 4 Km.

Em quase toda a extensão do percurso existem árvores nas proximidades, tão desejadas para proporcionar alguma sombra, especialmente nos dias mais quentes. Entre as espécies mais abundantes e que nos acompanham durante a caminhada, estão os sobreiros (Quercus suber), alguns dos quais imponentes, oliveiras (Olea europaea var. europaea) de todos os portes, desde recém-plantadas a exemplares provavelmente centenários, a julgar pelas dimensões notáveis dos seus troncos. Em determinados pontos do percurso observam-se choupos-negros (Populus nigra) ao longe, indiciando a presença de zonas mais húmidas e ainda alguns pinheiros-mansos (Pinus pinea) e pinheiros-bravos (Pinus pinaster).
O coberto arbustivo está representado por espécies como o medronheiro (Arbutus unedo), o pilriteiro (Crataegus monogyna), a murta (Myrtus communis), a quaresma (Viburnum tinus) e o trovisco (Daphne gnidium).
Algumas plantas trepadeiras encontram-se enroladas nos arbustos próximos e continuam a sua escalada pelas árvores, em busca de uma posição com melhor luz. As grandes bagas vermelhas da uva-de-cão ou norça- preta (Tamus communis) indicam a sua presença, já que nesta altura do ano é a única parte visível da planta, os caules e folhas estão secos e esta sobrevive através dos tubérculos carnudos, a partir da qual se desenvolve nos períodos mais húmidos e frescos do ano. Outra espécie que se desenvolve na forma de trepadeira é a salsaparrilha-bastarda (Smilax aspera), facilmente distinguida pelas suas folhas brilhantes, verdes, por vezes com manchas esbranquiçadas. Ao contrário da norça-preta, é perene, mantendo a sua folhagem durante todo o ano.
Em muros de pedra e taludes, encontramos uma planta suculenta, o chamado arroz-das-paredes (Sedum forsterianum). Como o tempo ainda está quente e a chuva ainda não foi suficiente para manter o substrato húmido, as plantas apresentam uma aparência meio seca, conservando algumas folhas verdes nas extremidades dos rebentos, quase fechadas sobre si mesmas.
Este pequeno percurso ainda nos permite observar alguns fetos, que se desenvolvem nas facetas mais sombrias e húmidas de muros de pedra, taludes e alguns epífitos em árvores. Nesta altura do ano a folhagem apresenta-se com aspecto seco e encarquilhado, de cor castanha ou verde-seco. Entre as espécies, encontramos a inconfundível douradinha (Ceterach officinarum), o polipódio (Polypodium cambricum ?), o avencão (Asplenium trichomanes) e outro Asplenium, que será provavelmente o A. adiantum-nigrum (feto-negro). No que resta de um muro velho, aparece uma espécie de Cheilanthes (possivelmente C. tinaei), género que raramente se encontra nos concelhos de Abrantes e Sardoal. Tal como nos géneros mencionados anteriormente, a sua folhagem também fica enrugada nos períodos quentes e secos, mas, ao contrário dos restantes e da generalidade dos fetos, cresce muitas vezes em locais surpreendentemente expostos ao sol.
Quanto a bolbos, esta é a época em que encontramos a cebola-albarrã (Drimia maritima / syn. Urginea maritima) em flor. Trata-se de um bolbo geófito que permanece sem folhas durante o tempo quente e seco do verão. Entra em floração de finais de agosto até meados de outubro, período durante o qual a folhagem ainda está ausente. Ao percorrermos este trajecto podemos encontrá-lo nas clareiras de matos, zonas pedregosas, prados abertos, taludes e bermas dos caminhos.
Durante o percurso encontramos uma das referências da Via Romana/PR4, a Capela de S. Bartolomeu, edifício de pedra tosca que se julga ser datado do século XVI, possivelmente associado ao Caminho de Santiago. Próximo da capela, podemos contemplar uma oliveira escultural, cujo porte, cavidades, tronco e ramos retorcidos, nos fazem acreditar que este exemplar possuirá várias centenas de anos.
De volta ao ponto de partida, o sol já se ocultou no horizonte.
Outras leituras:
Percursos pedestres em Sardoal:
https://turismo.cm-sardoal.pt/index.php/desportos-de-natureza/percursos-pedestres
Árvores emblemáticas do concelho de Sardoal:
https://wikitejo.mediotejo.pt/index.php?id=57:igreja-de-santo-aleixo-do-beco&catid=168
Flora-on:
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